A Liga Feirense de Poker com o intuito de conhecer os "personagens" que compõem a cena do poker baiano entrou em contato diretamente com nada mais na menos que; Ignácio Gustavo Esperón Stalla. Confira essa entrevista exclusiva, daquele que por muitos é considerado um dos melhores jogadores de poker da Bahia.
Perfil:
Idade: 38 anos
Naturalidade: Montevidéu,
Uruguai
Profissão: Corretor de
seguros
Principais Títulos:
- Campeão do NLHE 6 Max do BSOP Costa do Sauípe
- 2 mesas finais em torneios paralelos do BSOP
- Vice campeão baiano de NLHE 2012
- 6 mesas finais do Circuito Baiano de TH, com 3 Heads up (todos
perdidos!!!)
- Duas mesas finais do Circuito Feirense, com um Heads up
(também perdido!!)
- 4 vezes campeão do SUPER 100
- Quarto lugar no Torneio TURBO 180 do Masterminds 2
Entrevista
LFP - Além do poker você tem outros
hobbys?
Essa pergunta deixo para vocês mesmos fazerem ao porteiro do Johnny
Clube aí em Feira...
LFP - Quanto tempo você mora no Brasil; na Bahia?
Cheguei aqui no Carnaval de 2001 e nunca mais fui embora. Trabalhei pra caramba e hoje, graças a Deus,
vivo muito bem nesta terra maravilhosa.
LFP - O que você acha de morar aqui?
Gosto muito da Bahia e da sua gente.
Com o poker tive a sorte de conhecer uma galera muito boa em Salvador, e
através deles, em Feira também. Além de
ser uruguaio, meu pai é espanhol, e eu tenho por ele a cidadania europeia. Poderia viver em qualquer lugar do mundo, e
escolhi morar aqui. O brasileiro é um
ser diferenciado... e ainda têm as brasileiras, que são as mulheres mais
completas do mundo. Sair daqui pra que?
LFP - Como você conheceu o poker?
Joguei poker fechado quando ainda era criança no Uruguai. Depois ficou esquecido até que vi alguns
programas na TV sobre o WSOP, quando Moneymaker venceu. Aí procurei e comecei a jogar no
Pokerstars.net com dinheiro fictício. Depois comprei alguns créditos no Bestpoker e
passei um tempinho jogando lá. Um amigo
me convidou para jogar ao vivo numa mesinha na casa dele e aí descobri que “a
minha” é jogar LIVE POKER e não na internet.
LFP - O que você tem a dizer sobre o poker Online?
O
Poker Online não é a minha especialidade.
Não quero entrar em polêmicas, mas não acredito muito nos softwares e/ou
as empresas que comandam esse jogo online.
A quantidade de bizarrices que se vêm nessas mesas, são muito incomuns
no LIVE. Os defensores do Online vão
dizer que é porque você joga mais mãos, mas os percentuais com que essas coisas
acontecem são assustadores. Com todo
respeito, prefiro ver quem está embaralhando e dando as cartas.
LFP - Como você vê a cena do poker no Brasil e principalmente na Bahia?
O Poker brasileiro está crescendo com uma velocidade absurda. Tive a sorte de jogar o BSOP MILLIONS e fui
testemunha de uma presença maciça de publico atrás de nosso esporte, 2.400 pessoas jogando o Main Event é muita
gente! A qualidade dos jogadores
brasileiros está evoluindo a cada dia e os resultados internacionais estão começando
a fluir. Lógico que nesse publico, nem
10% eram “foras de série”. Como jogador
regular do Circuito Baiano e alguém que têm jogado vários BSOP, vejo que o
nosso nível regional está na media do nível deste tipo de torneios. Os nossos
jogadores precisam se abstrair do fator “dinheiro” e jogar o jogo. Se fizerem isso, tecnicamente tem muita chance
de chegar longe ou até mesmo de cravar uma etapa de algum Main Event BSOP ainda
neste ano. Nos side-events, em Sauipe, 4
dos 6 eventos paralelos foram vencidos por Baianos (considerando eu como um
baiano mais!!!)
LFP - Como você vê o Circuito Baiano hoje?
O Circuito Baiano de Poker é uma realidade de sucesso que se renova e
cresce a cada ano. Fabio Araujo e a sua
equipe têm conseguido, com todas as dificuldades que isso representa,
apresentar um torneio de qualidade com estrutura similar ao BSOP, com croupiers
em todas as mesas e um alto nível de jogo.
Acredito também que as diversas praças da Bahia poderiam se unir e levar
etapas com Buy ins diferenciados e “puxar” a galera para expandir mais o nosso
esporte. Vitoria da Conquista, Feira de
Santana (com o apoio da galera de Serrinha) e Petrolina (embora tecnicamente
não seja Bahia), acredito que tenham condições de organizar torneios deste
calibre. Basta querer!
LFP - Como foram suas experiências no BSOP?
O BSOP é uma serie de torneios muito boa de se jogar. O fato é que é muito caro para o nível de
jogo que eu acho que tenho. Em 4 etapas
que joguei do MAIN EVENT não consegui nenhum ITM. Meu jogo encaixou, mas tive a
infelicidade de ir parar em duas mesas da TV e o “medo cênico” mexeu no meu
jogo. Nos torneios paralelos, meus
resultados foram muito melhores, com 3 ITM em 6 torneios disputados, incluindo
duas mesas finais e uma cravada. No
geral, embora é muito legal ganhar ou ficar ITM nesse tipo de torneios pela
diversidade dos rivais que enfrenta, recomendo ir passo a passo. Antes mesmo de ir num BSOP recomendo demais
jogar um ou dois anos de Circuito Baiano completo e avaliar seus
resultados. Se passar regularmente para
o dia 2 e conseguir sistematicamente ficar entre os 20 primeiros de boa parte
das etapas, pode começar a pensar em tentar esse upgrade
LFP - Conte-nos sobre sua vitória no 6-max
O
NLHE 6max é um dos torneios mais gostosos de jogar. Ação o tempo todo, e quando você não é um dos
blinds ou UTG, já está em posição. Assim
que alguém com jogo técnico e que saiba montar armadilhas com certeza vai
longe. Meu jogo encaixou muito por isso. Independente
de estratégia ou técnica de jogo, no meu caso, essa vitória foi muito gostosa
por como ela se deu. Vinha de uma
eliminação traumática no Main Event e já estava quase que voltando pra Salvador
(decidido a largar o poker!!!), quando André Maia (“Sapato”) insistiu em que me
inscrevesse no satélite para o 6Max.
Entrei por R$ 200 e consegui puxar a vaga. O buy in de R$ 1.000 ia ser pesado para eu
pagar, então o único jeito de jogar seria esse. Já
no torneio, na primeira mesa o baralho judiou demais comigo. Tomei algumas
fatiadas importantes e cheguei a estar com 6 big blinds na metade do sexto
nível Aí meu jogo começou a encaixar e
quatro níveis depois era chip leader do torneio com mais de 150 bb e dominando
a mesa. Por
ser um jogo Short handed, na maioria das mãos você joga contra um ou dois
jogadores no máximo. Então o conceito de
posição e a habilidade de leitura dos rivais passam a ser fundamentais para o
seu torneio evoluir. Não perdi tempo e
todas as mãos, participando ou não da ação, eram observadas e cada um dos
jogadores também. Isso me deu muita
vantagem para o dia dois.Para
o segundo dia passamos 9 pessoas (ITM era com 9 mesmo) . Oito profissionais, e o “fish” que está aqui
respondendo as suas perguntas. No 6Max as
mesas se juntam com 7 pessoas para formar a mesa final e eu era terceiro em
fichas com 140k, sendo que o chip leader tinha 4 vezes o meu stack. Com
muita paciência fui sobrevivendo e até eliminando algum dos rivais que estavam
shortstacked. Preparei armadilhas e
também consegui fugir de algumas pela leitura que falei antes. Mas cai numa que quase custa minha
eliminação. Eu com TT coloquei em all in
o Roberto Lifas que tinha KK. Um T no
flop me salvou e o eliminou em quarto.
Com essa mão fui para segundo em fichas com pouco mais de 350K. Na
mão seguinte pego TT novamente. O
shortstacked a minha esquerda com 75K, e os blinds 6k/12k com ante de 1k. O botão abre 24k, eu SB apenas call
(preparando armadilha para o “short”), e ele no BB apenas call. Flop 2 7 8.
Eu “check” esperando o all in dele, que acontece imediatamente. O botão dá all in por cima... O que você faria com seu “overpair”? Eu foldei aberto... O Short tinha A8 e o botão estava trincado no
7. Heads up formado! (Você teria caído?) No
HU, joguei contra Felipe Salgado que recentemente ficou terceiro no Main Event
do WCOOP e puxou 215 mil dólares. Fora
ele ser profissional do online, tinha 1.024K fichas contra 321K meus. Na torcida dele estavam jogadores como Pedro
Padilha, Ceará, Leonardo “Todasso” Martins... só profissional. A pergunta era apenas uma... “Quantas mãos este fish iria durar?”. Pela diferença em fichas, nenhum dos dois
falou sobre qualquer possibilidade de fazer acordo. Até porque os profissionais não fazem... Acredito
que esse excesso de confiança traiu ele.
O jogo começou, e eu tinha observado muito o jogo dele, tanto nas mesas
semifinal como na final, e seus movimentos estavam bem definidos para mim. Quem observava de fora, me falou depois, que
parecia que toda mão que eu jogava, estava extraindo valor. E com muita paciência e serenidade consegui
uma coisa muito difícil contra um jogador desses, que é igualar (realmente
cheguei a virar), sem showdown. Não
houve até a virada um all in/call. Em
menos de 40 minutos de jogo, eu tinha 740k contra 605k dele. Aí aconteceu uma coisa que me deu muita
confiança no jogo. Ele, como
profissional que é, baixou do seu pedestal e pediu para o diretor do torneio
(nosso Fabio Araujo) para fazer acordo.
Eu aceitei na hora... não estava aí pelo dinheiro. Queria era o troféu mesmo! Mas me encheu de moral!!! Na
primeira mão após o acordo (blinds 15K/30K), ele dá um raise para 62K, eu dou
3Bet para 140K, ele all in... e eu achei que meu 33 era bom para flipar naquela
hora... call. Assim foi 33 x AJ... flop
trouxe uma J e ele puxou a parada. Fiquei
na UTI. Mão seguinte vejo 69 de espadas
e vou insta all in, ele insta call. 69 x
A4. Flop trouxe um 9 e dobrei. Mão
seguinte muda o blind para 20k/40k. Com
72 off vou All in e ele larga. 300K. Na
próxima, ele dá um raise para 85K... eu abro as cartas e vejo o AA mais lindo
da minha vida. Call. Flop K T
8. Eu check. Ele All in.
Eu insta call. Ele
tinha Q9 e ficou pela broca do valete que nunca bateu. Voltei de novo para 600K e igualei o jogo. Na
mão seguinte ele veio all in e eu larguei. Na
outra mão eu 55. Ele 85K, eu All in, ele
insta call. 55 x AQ. A galera da Bahia já tinha começado a
equiparar as torcidas. Tudo mundo
chamando o 5... flop 5 5 8. Quadra de 5
no flop! Aí foi para 1200 k, deixando
ele com 3 big blinds. Na
primeira mão ele veio all in e eu tinha 73off e não deu pra pagar.Na
mão seguinte dou um mini raise e ele me volta all in. Eu com K9 paguei. Ele abre AJ.
O flop 9 7 6, turn 4... tiver T.
E acabou!!! Foi muita loucura...Fabio
Araujo, que além de diretor do torneio foi um espectador de luxo do heads up,
disse que foi um dos melhores mão a mão que já viu na vida. A mesa final durou 4 horas. Delas, 2 horas foi o heads up!!
LFP - Como você enxerga o futuro do poker na Bahia?
Enxergo um cenário de cada dias mais gente praticando, pois é muito
empolgante o nosso esporte. Se ele for
gerido com responsabilidade e pensando na grandeza do jogo, vejo uma Bahia com todas
as praças unidas. Gostaria de ver um
torneio Baiano com 300 ou 400 jogadores nos próximos 5 anos. Mas para isso precisamos que todos trabalhem
juntos, pelo bem do esporte. Em relação
aos jogadores baianos, se continuarem a evoluir do jeito que estão crescendo,
os resultados a nível nacional não vão demorar em chegar.
LFP - Como foi sua experiência no Circuito Feirense?
O
Circuito Feirense é, independente de níveis de jogo, um grande encontro de
amigos. O poker têm me dado muitas
coisas, mas (do mesmo jeito que o grande Jonga Frank fala), o principal delas foram
as amizades que consegui e as pessoas de bem que conheci. Em Feira de Santana fui recebido muito
bem. Só tenho palavras de agradecimento
para Darlan, Bira, Mateus, Camarão, Anderson e a turma toda.Em
matéria de jogo em si, é um jogo meio louco até que a possibilidade de
reentrada acaba. Os bets e 3bets chegam
a valores em fichas muito altos, logo nos primeiros níveis de blinds. Quem consegue passar bem desse “tiroteio”
inicial, têm boa chance. Depois do
break, a técnica dos jogadores começa a prevalecer e o jogo muda. Apanhei tanto na primeira etapa que joguei,
que nas duas seguintes preferi entrar com 20 big blinds depois do break, e nas
duas vezes cheguei a mesa final. Uma
coisa muito legal que encontrei em Feira, como em Salvador encontro, é que prima
o ambiente de camaradagem. Embora a
competitividade existe, e é bom que assim seja, as pessoas se respeitam e
“curtem” a sua festa mensal.Como
recomendação, para que os jogadores ajudem a evoluir ainda mais o Circuito
Feirense, é que continuem estudando e frequentando o Circuito Baiano, pois (sem
querer ferir nenhum sentimento) o nível de jogo em Salvador, tal vez por ter
começado antes e ter mais gente que tenha jogado BSOP e demais, é um pouco
superior. Os jogadores como o próprio
Darlan, Bira, Camarão, Matheus, Anderson, Fernando Lago, Diego Cerqueira,
Marcio Belitardo (me desculpem se me esqueço de alguém) que jogam regularmente
em Salvador, sabem como isso têm ajudado com seu jogo, e passam a sua
experiência aos demais jogadores do Circuito Feirense. Basta observá-los. A prova está na regularidade com que as
pessoas que falei acima chegam ou cravam a mesa final no Feirense. Para melhorar tem que estudar e jogar com
quem joga melhor. Esse “jogar com quem
joga melhor” têm que ser aproveitado como estudo, e por favor, não me levem a
mal com este comentário.
LFP - Com três vice-campeonatos em etapas do circuito baiano você não senti
falta de uma etapa dessa em seu currículo?
Com
certeza sim. Além disso, já fui vice
campeão baiano. O apelido de “Vicentino”
daqui a pouco vai ser meu se continuar assim.
LFP - Quais conselhos você daria para o pessoal que está começando a jogar
poker?
Primeiro que nada, que não esqueçam que o poker é um jogo, e que se
divertir nele deve ser sempre muito mais importante que qualquer eventual ganho
financeiro que possam ter com ele.
Depois, que não se deixem influenciar ou que não se encantem pelo
dinheiro que os profissionais ganham , e queiram ser como eles. O poker é um jogo que dá grandes prêmios, mas
para que uns ganhem, muitos têm que perder.
Então, se querem evoluir no seu jogo, procurem ler e procurar na
internet material e vídeos sobre mãos e demais.
Aproveitem o poker para fazer amigos e se divertir. O tempo, a sua dedicação e/ou habilidade
natural irão dizer se são aptos para ser profissionais, mas nunca queimem
etapas neste jogo.
LFP - Quais dicas você pode deixar para o circuito feirense e para o pessoal
que joga aqui em Feira?
As dicas sobre evolução do jogo, já deixei nas perguntas
anteriores. O que queria deixar para
vocês é um grande “OBRIGADO” por ter me recebido tão bem e que estamos juntos
para o que precisarem, pois aqui, vocês têm um amigo. Um abração a todos e fiquei muito feliz em
compartilhar minhas vivências com vocês.
Espero que tenham gostado da entrevista, realmente conhecer as vivências de um jogador desse nível só enriquece o nosso conhecimento sobre o "mundo" chamado Poker. Em nome da Liga Feirense de Poker e do Four Bet Club gostaríamos de agradecer enormemente a disposição o empenho e carinho que esse grande sujeito tem pelo poker feirense e seus participantes. Mais uma vez obrigado Ignacio Gustavo Esperón Stalla.
Agradecimentos:
Liga Feirense de Poker - Aposte nessa ideia.
Four Bet Club - Esportes da Mente.